Anões do Orçamento – emendas ao orçamento federal

Série Emendas ao Orçamento Federal

Episódio 1 – O Caso Anões do Orçamento

O orçamento público é o instrumento que define como os recursos arrecadados pelo Estado serão aplicados. Mas nem sempre esse processo foi transparente.

No início da década de 1990, uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) revelou um dos maiores escândalos da política brasileira: o caso dos “Anões do Orçamento”. Deputados, empreiteiras e entidades de fachada manipularam emendas parlamentares e subvenções sociais, desviando milhões de reais.

O Caso

Em 1993, o Brasil descobriu uma das maiores fraudes da sua história. Um consultor de orçamento do Senado, que também fazia parte do esquema, elaborou dossiê com evidências de irregularidades na Comissão Mista de Orçamento (CMO). O documento vazou para a imprensa e deu origem à CPI.

As investigações mostraram como deputados manipulavam emendas parlamentares e subvenções sociais, em conluio com empreiteiras e ONGs de fachada. Entre as empresas citadas no relatório da CPI estavam: OAS, Andrade Gutierrez, Odebrecht, Camargo Corrêa e Mendes Júnior.

Estrutura do Executivo na época

Para entender as fragilidades, é importante observar como era a estrutura do Executivo nos anos 1990:

  • O Ministério da Fazenda abrigava a Secretaria do Tesouro Nacional (STN), criada em 1986, responsável pela administração financeira e pelo controle interno do Executivo. A CPI criticou fortemente essa vinculação, pois a STN era, ao mesmo tempo, gestora e fiscal de si própria, comprometendo sua independência.
  • No Ministério do Planejamento, o Departamento de Orçamento da União (DOU), dentro da Secretaria de Orçamento Federal, centralizava o processo orçamentário. A CPI concluiu que essa concentração favorecia manipulações políticas e técnicas na inclusão de obras e subvenções.

Além disso, a própria Comissão Mista de Orçamento tinha excesso de poder, com pouca fiscalização externa. Em 1992, por exemplo, as emendas eram praticamente definidas pelo relator-geral do Orçamento.

Entre os ministérios mais próximos das fraudes estavam o Ministério da Ação Social, o Ministério do Planejamento e a Secretaria de Desenvolvimento Regional.

Consequências

A CPI resultou em punições: seis deputados foram cassados, quatro renunciaram e oito acabaram absolvidos.

Recomendações da CPI para modernizar o Estado

  • Nova sistemática orçamentária: maior transparência, participação mais ampla dos congressistas e rigor no controle da execução.
  • Aprimorar o SIAFI e democratizar seu acesso.
  • Definir percentuais mínimos para garantir a continuidade de obras públicas.
  • Fortalecer os sistemas de controle interno e externo:
    • No TCU, ampliar equipes e descentralizar fiscalizações por meio das delegacias regionais.
    • Desvincular o controle interno da STN e garantir autonomia em relação aos ministros de Estado.
    • Dirigentes do sistema de controle interno deveriam ser escolhidos exclusivamente entre servidores da carreira de Finanças e Controle.

Em 1994, como resultado das recomendações, foi criada a Secretaria Federal de Controle Interno (SFC) na estrutura do Ministério da Fazenda (Medida Provisória 480).

Conclusão

Este foi o primeiro episódio da nossa série sobre emendas ao Orçamento Federal.
O caso dos Anões do Orçamento mostrou como fragilidades institucionais podem abrir espaço para fraudes milionárias e, ao mesmo tempo, reforçou a necessidade de transparência, controle e independência no processo orçamentário.

No próximo episódio, vamos avançar na história e compreender como as emendas continuam a moldar — e muitas vezes a influenciar de forma controversa — a política brasileira. Até lá!


Parece-nos necessário limitar a prerrogativa de emendar a Lei Orçamentária, visto que através desse mecanismo vários desmandos foram praticados, beneficiando entidades supostamente beneficentes mas que escondiam apenas o interesse material do Parlamentar que as havia instituído.

Relatório final da CPI, p. 388.

Renato Santos Chaves

Vídeo: Emendas Parlamentares ao Orçamento Federal – Anões do Orçamento 1993

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